Ia devolver-te o sorriso que
me havias ofertado naquela manhã da alegria do reencontro, mas agora já nada
posso fazer, outro pobre que passou por estes caminhos já o recolheu, era o
único pão que tinha para lhe ofertar.
Eu queria acordar o
silêncio que trazes na alma, mas o ruído das orações inúteis de tantos,
ecoando no coração vazio de si mesmos, não permitem que o silêncio se afaste e
dê espaço ao ruído das crianças que ainda somos todos, no coração do Pai.
Eu queria abrir-te a
porta do Sacrário onde habito, mas o véu das teologias humanas, esconde a
chave da porta nos corações avaros dos que se apoderaram da Palavra.
Eu queria abafar o grito de
tantos silenciosos que chegam à minha Presença, mas o coração amado do meu
Filho já os abraçou no seu grito da cruz.
Eu queria sair ao teu
encontro, mas preciso das tuas mãos para me ajudarem a erguer e caminhar ao
lado de tantos que como Eu, caminham feridos pela violência do desamor,
ajuda-nos.
Eu queria embarcar na barca
que é o teu coração, mas os passageiros-sentimentos, já pouco espaço deixaram
para um pobre pescador de corações poder repousar aí o seu próprio
coração.
Eu queria chorar abraçado
no teu próprio choro, mas as lágrimas de ambos irmãos que somos, já correm nos
rios da misericórdia do Pai e desaguarão um dia, nos oceanos do perdão, para
que ali, muitos marinheiros perdidos, possam encontrar o caminho da
Esperança.
Eu queria acordar os que já
dormem na casa de meu Pai, mas a festa da ressurreição ainda não terminou,
precisam ainda da tua presença para servires à mesa do Pai, onde muitos
famintos do amor, esperam ainda que os sirvas e sacies a sua sede.
Eu queria fugir com os que
já fugiram para os desertos da noite, mas a luz que irradia o teu olhar ao
bater à minha porta, cega a minha alma e obriga-me a caminhar pela tua mão,
para que seja feita a Tua vontade, não a minha vontade.
Eu queria deixar a tua voz
entrar, aqui, no Sacrário, mas preciso que esqueças as palavras que aprendeste há
muito, agora preciso que fales apenas o silêncio.
Eu queria sentir a
saudade-irmã que um dia nasceu comigo, mas sou apenas um prisioneiro do amor
que habita no sacrário, sacrário igual a tantos lares esquecidos e pobres, onde
habita na verdade o meu Pai.
Eu queria dizer e receber
um adeus dos que já partiram, mas os que ainda ficaram, impedem a partida, com
a sua presença de filhos que esperam também o amor.
Eu queria sentir a carícia
da tua mão no rosto de tantos que são a minha própria presença, mas preciso que
abras as mãos e deixes cair no solo da quietude as imperfeições que ergueste
nos muros dos teus pensamentos, para assim puder sentir o toque de um filho que
em ti amo eternamente, sim abre as mãos para que o vento meu irmão leve
para longe essas pedras do caminho da liberdade do amor.
Eu queria dizer e falar
tudo, mas tu és o meu TUDO, meu filho, que esperas o abraço de meu Pai.