*** Sanctus...Sanctus...Sanctus ***

domingo, 19 de maio de 2013

Diálogos junto ao Sacrário



Ia devolver-te o sorriso que me havias ofertado naquela manhã da alegria do reencontro, mas agora já nada posso fazer, outro pobre que passou por estes caminhos já o recolheu, era o único pão que tinha para lhe ofertar.

Eu queria  acordar o silêncio que trazes na alma,  mas o ruído das orações inúteis de tantos, ecoando no coração vazio de si mesmos, não permitem que o silêncio se afaste e dê espaço ao ruído das crianças que ainda somos todos, no coração do Pai. 

 Eu queria abrir-te a porta do Sacrário onde habito, mas  o véu das teologias humanas, esconde a chave da porta nos corações avaros dos  que se apoderaram da Palavra.

Eu queria abafar o grito de tantos silenciosos que chegam à minha Presença, mas o coração amado do meu Filho já os abraçou no seu grito da cruz. 

Eu queria sair ao teu encontro, mas preciso das tuas mãos para me ajudarem a erguer e caminhar ao lado de tantos que como Eu, caminham feridos pela violência  do desamor, ajuda-nos.

Eu queria embarcar na barca que é o teu coração, mas os passageiros-sentimentos, já pouco espaço deixaram para um pobre pescador de corações poder repousar aí o seu próprio coração. 

Eu queria chorar abraçado no teu próprio choro, mas as lágrimas de ambos irmãos que somos, já correm nos rios da misericórdia do Pai e desaguarão um dia, nos oceanos do perdão, para que ali, muitos marinheiros perdidos, possam encontrar o caminho da Esperança. 

Eu queria acordar os que já dormem na casa de meu Pai, mas a festa da ressurreição ainda não terminou, precisam ainda da tua presença para servires à mesa do Pai, onde muitos famintos do amor, esperam ainda que os sirvas e sacies a sua sede. 

Eu queria fugir com os que já fugiram para os desertos da noite, mas a luz que irradia o teu olhar ao bater à minha porta, cega a minha alma e obriga-me a caminhar pela tua mão, para que seja feita a Tua vontade, não a minha vontade. 

Eu queria deixar a tua voz entrar, aqui, no Sacrário, mas preciso que esqueças as palavras que aprendeste há muito, agora preciso que fales apenas o silêncio. 

Eu queria sentir a saudade-irmã que um dia nasceu comigo, mas sou apenas um prisioneiro do amor que habita no sacrário, sacrário igual a tantos lares esquecidos e pobres, onde habita na verdade o meu Pai. 

Eu queria dizer e receber um adeus dos que já partiram, mas os que ainda ficaram, impedem a partida, com a sua presença de filhos que esperam também o amor. 

Eu queria sentir a carícia da tua mão no rosto de tantos que são a minha própria presença, mas preciso que abras as mãos e deixes cair no solo da quietude as imperfeições que ergueste nos muros dos teus pensamentos, para assim puder sentir o toque de um filho que em ti amo eternamente, sim  abre as mãos para que o vento meu irmão leve para longe essas pedras do caminho da liberdade do amor. 

Eu queria dizer e falar tudo, mas tu és o meu TUDO, meu filho, que esperas o abraço de meu Pai.

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