Cinzas acolhidas
Quando se consumirem todos os madeiros que levam em si a dor e a angústia dos homens, então apenas sobrarão as cinzas para guardar no coração dos que ainda reservaram um espaço para acolher o peso desse pó que custou tantas lágrimas e gritos de dor recolhido no silêncio dos feridos. Os que possuem um coração assim carregado de cinzas, fazem parte da multidão dos que gritam, abafados nos gritos dos que nem até a própria irmã morte já encontra espaço para acolher, tal o peso da obscuridade dessas almas. Nas cinzas das encruzilhadas das palavras, apenas se sente a verdade da sua leveza que no vento são atiradas aos ares, empreendendo um voo sem retorno. Em todas essas palavras, que outrora construíram castelos de ideias e formas roubadas na origem da palavra, o evangelho foi deturpado e vendido aos mercadores da salvação dos homens!
Quem poderá dizer que não sentiu a dor na alma ao ser elevado até perto do rosto do Pai e receber a carícia das suas mãos feridas pelos ódios dos homens? Descrever a rudeza da pele das suas mãos, só abraçando o barro como o Oleiro, talvez aí consigas perceber a sensação do amassar eterno! , Dirás ou sentirás habitar neste barro um coração rude e ferido! Todos recordam o fogo ou a madeira que o alimentou. Mas, alguma vez algum de nós, guardou alguma gratidão pelas cinzas que ali ficam, desprezadas e esquecidas, esperando talvez um fim mais feliz? Talvez, quem sabe, talvez sejam recolhidas pelas mãos do lavrador que as lançará à terra, para que ainda, na sua morte, possam dar vida aos solos que irão produzir o fruto que irá alimentar outra vida! Inquieta reconhecer ao olhar as cinzas, inquieta descobrir que ali está um resto de uma vida: a árvore robusta, a beleza da flor que se extinguiu num gesto de doação, doação aos homens, à natureza, até ao altar que adornou e embelezou, aproximando assim mais os homens de um Deus desconhecido, mas que fica mais próximo e igual aos homens, porque esta doação, os une ao eliminar o vazio da distância entre a matéria e o Criador que nela nos é revelado.
Muitos gostariam de acolher as suas próprias cinzas nas vaidades dos seus sepulcros mandados por si construir, procurando talvez perpetuar a efemeridade dos seus gestos, engrandecidos nos caminhos das suas lutas e conquistas terrenas. Outros, buscam nos mergulhos dos oceanos, esconder as cinzas, que são a marca da sua passagem pelo tempo. Nem ali, onde se unem o pó com o pó, os homens conseguem compreender a efemeridade da força humana; a inutilidade das palavras que não nasceram num espaço livre; por isso, ainda tentam aprisionar aquilo que lhes formou a morada da alma, mas que agora já não lhes pertence, porque voltou às origens!Já alguma vez sentiste escorregar entre os teus dedos a cinza, sentindo a leveza e a poeira que se esvai sem resistência um dia, se o homem conseguir esvaziar toda a sua resistência que construiu nas palavras e nos gestos, talvez então consiga deixar-se agarrar, sem medo, pelas mãos dos que tentam possui-lo, mas que jamais o aprisionarão, porque este se tornou leve como a leveza do pó, e consegue libertar-se das prisões dos homens, ainda que estes o tentem segurar com a força dos seus grilhões que construíram com as suas mãos e os seus intelectos.
Nunca tinha aprofundado a ideia de o homem, tantas vezes se ter coberto com cinzas! Agora entendo! No frio da morte que desnuda a vaidade humana, só lhe resta a cinza para cobrir a sua nudez! E nem aí, as forças da natureza, jamais lhe permitirão voltar a ser senhor e dono do resto de si de ter sido calor; livre, depois de ter sido aprisionada pela matéria; silenciosa, extinta guiada no grito da sua consumação; cinzenta, outrora colorida na suposição das abstracções corrigidas mesmo, deixando-lhe apenas a cinza, como abrigo temporário.Descobri que nas cinzas, existe muita vida! Talvez não a vida que todos conhecem, mas ela lá está, fria, depois e organizadas pelo olhar humano. Sim, existe vida no abraço da poeira que se deixará por sua vez ser abraçada pela eternidade.“Bem sei que me levas à morte, ao lugar onde se reúnem todos os mortais. Mas poderá aquele que cai não estender a mão, e aquele que perece não pedir socorro?” (Job 30:23-24).
Quem poderá dizer que não sentiu a dor na alma ao ser elevado até perto do rosto do Pai e receber a carícia das suas mãos feridas pelos ódios dos homens? Descrever a rudeza da pele das suas mãos, só abraçando o barro como o Oleiro, talvez aí consigas perceber a sensação do amassar eterno! , Dirás ou sentirás habitar neste barro um coração rude e ferido! Todos recordam o fogo ou a madeira que o alimentou. Mas, alguma vez algum de nós, guardou alguma gratidão pelas cinzas que ali ficam, desprezadas e esquecidas, esperando talvez um fim mais feliz? Talvez, quem sabe, talvez sejam recolhidas pelas mãos do lavrador que as lançará à terra, para que ainda, na sua morte, possam dar vida aos solos que irão produzir o fruto que irá alimentar outra vida! Inquieta reconhecer ao olhar as cinzas, inquieta descobrir que ali está um resto de uma vida: a árvore robusta, a beleza da flor que se extinguiu num gesto de doação, doação aos homens, à natureza, até ao altar que adornou e embelezou, aproximando assim mais os homens de um Deus desconhecido, mas que fica mais próximo e igual aos homens, porque esta doação, os une ao eliminar o vazio da distância entre a matéria e o Criador que nela nos é revelado.
Muitos gostariam de acolher as suas próprias cinzas nas vaidades dos seus sepulcros mandados por si construir, procurando talvez perpetuar a efemeridade dos seus gestos, engrandecidos nos caminhos das suas lutas e conquistas terrenas. Outros, buscam nos mergulhos dos oceanos, esconder as cinzas, que são a marca da sua passagem pelo tempo. Nem ali, onde se unem o pó com o pó, os homens conseguem compreender a efemeridade da força humana; a inutilidade das palavras que não nasceram num espaço livre; por isso, ainda tentam aprisionar aquilo que lhes formou a morada da alma, mas que agora já não lhes pertence, porque voltou às origens!Já alguma vez sentiste escorregar entre os teus dedos a cinza, sentindo a leveza e a poeira que se esvai sem resistência um dia, se o homem conseguir esvaziar toda a sua resistência que construiu nas palavras e nos gestos, talvez então consiga deixar-se agarrar, sem medo, pelas mãos dos que tentam possui-lo, mas que jamais o aprisionarão, porque este se tornou leve como a leveza do pó, e consegue libertar-se das prisões dos homens, ainda que estes o tentem segurar com a força dos seus grilhões que construíram com as suas mãos e os seus intelectos.
Nunca tinha aprofundado a ideia de o homem, tantas vezes se ter coberto com cinzas! Agora entendo! No frio da morte que desnuda a vaidade humana, só lhe resta a cinza para cobrir a sua nudez! E nem aí, as forças da natureza, jamais lhe permitirão voltar a ser senhor e dono do resto de si de ter sido calor; livre, depois de ter sido aprisionada pela matéria; silenciosa, extinta guiada no grito da sua consumação; cinzenta, outrora colorida na suposição das abstracções corrigidas mesmo, deixando-lhe apenas a cinza, como abrigo temporário.Descobri que nas cinzas, existe muita vida! Talvez não a vida que todos conhecem, mas ela lá está, fria, depois e organizadas pelo olhar humano. Sim, existe vida no abraço da poeira que se deixará por sua vez ser abraçada pela eternidade.“Bem sei que me levas à morte, ao lugar onde se reúnem todos os mortais. Mas poderá aquele que cai não estender a mão, e aquele que perece não pedir socorro?” (Job 30:23-24).
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